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31/10/2024Por Andressa Liz Cândido, Oncologista graduada pela Universidade Estadual de São Paulo – UNESP, formada em Oncologia Clínica pelo Instituto Brasileiro de Controle do Câncer e titulada pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
Dra, o câncer de mama tem cura?
Esta pergunta é a principal dúvida que permeia as primeiras consultas de pacientes que recém diagnosticaram o câncer de mama, o principal em incidênciaentre mulheres, no Brasil e no mundo. A resposta para esta pergunta é sim.
O diagnóstico do câncer de mama no estágio 0 permite altos índices de cura, muitas vezes, acima de 98% dos casos.
Você sabia que existe estágio 0? Trata-se do diagnóstico de carcinoma ductal in situ, ou seja, confinado aos ductos mamários.
Este diagnóstico é possível quando ocorre rastreio adequado. Infelizmente, no Brasil, apenas 25% dos casos de câncer de mama são diagnosticados em estágio zero.
Muitas mulheres acreditam que o auto-exame seja um método seguro e acabam atrasando o rastreio recomendado. Este é um grande mito. É verdade que existe uma parcela de pacientes que, habituadas a se tocarem diariamente, acabam procurando o Oncologista por perceberem nodulação suspeita com posterior confirmação em biópsia.
Porém, não existe evidência científica que apoie o uso desta ferramenta isoladamente. Uma metanálise que incluiu dois grandes estudos populacionais (388.535 mulheres) da Rússia e Xangai, comparou um grupo de mulheres que realizava regularmente auto-exame com um grupo controle que não realizava nenhum tipo de intervenção. Após 15 anos de seguimento, não houve diferença no número de diagnósticos de câncer de mama ou mortalidade entre os dois grupos. Desta forma, os autores concluem que o auto-exame não pode ser uma técnica segura e recomendável de detecção precoce. [1]
A Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) recomenda a realização de mamografia anual desde os 40 anos até os 75 anos.
Vale lembrar que existem populações especiais que precisarão iniciar rastreio antes dos 40 anos – isto será decidido em consulta, em conjunto com o Ginecologista.
Outros casos, o médico pode optar em decisão compartilhada com a paciente, em estender o rastreio para além dos 75 anos de idade.
Outra recomendação importante é a associação de outros métodos como ultrassom de mama e ressonância magnética em caso de mamas muito densas, ou seja, quando a proporção de glândulas mamárias é alta e poderia camuflar nódulos ou calcificações suspeitas na visualização da mamografia. [2]
Realizar exames periodicamente proporciona rastreio rápido e eficaz para um diagnóstico com elevada chance de cura. Mas não se engane: nenhum exame de mama é capaz de prevenir!
A prevenção é o segredo para ganharmos a luta contra o câncer de mama em nossa sociedade: uma luta diária travada com nossos hábitos de vida. Existem fatores de proteção importantíssimos e ao alcance de todas nós mulheres envolvendo nossa alimentação e atividade física.
Foi publicado em 2020 no JCO (Journal of Clinical Oncology) um estudo com 48.835 mulheres ao longo de 20 anos: um grupo consumiu menos 20% de gordura e aumentou a quantidade de frutas, verduras e grãos. Este grupo teve redução de risco de desenvolver câncer de mama em até 31% durante a prática da dieta e o benefício se manteve em 23% durante os 20 anos de seguimento, comparado ao grupo controle. [3]
Já pensou poder evitar um terço dos diagnósticos com uma alimentação inteligente? Este é o sonho de todo Oncologista! Outro interessante estudo publicado no auge da campanha do Outubro Rosa de 1999 comprovou ser a atividade física uma poderosa proteção contra o câncer de mama. 121.701 mulheres foram acompanhadas durante 20 anos de pesquisa.
Aquelas mulheres que reportaram atividade física ao menos 7 horas por semana tiveram 18% menor risco de desenvolver câncer de mama.[4]
Já pensou se pudéssemos somar os dois fatores de proteção a nosso favor? Quantos diagnósticos seriam evitados? Quantas pacientes seriam poupadas de cirurgia? Radioterapia? Quimioterapia?
A Organização Mundial de Saúde recomenda a realização de 150-300 minutos semanais de atividade física moderada para a população em geral e também para sobreviventes do câncer de mama.
Atividade física moderada é aquela que é percebida numa escala de esforço como nota 6 (de 0-10), ou ainda o tipo de exercício que permite conversar com dificuldade, caminhadas com velocidade acima de 5 Km/h, intensidade comparada a da dança de salão ou jogo de tênis. [5] Vamos encarar? “O esporte salvou a minha vida”, declara poderosamente minha paciente de 26 anos que foi curada do câncer de mama.
Na luta pela vida o seu papel é claro. Seja inteligente na escolha do seu alimento e escolha sair da inércia: movimente seu corpo. Você é a chave da vitória.
Referências:
[1] Kösters JP, Gøtzsche PC. Regular self-examination or clinical examination for early detection of breast cancer. Cochrane Database Syst Rev. 2003;2003(2):CD003373. doi: 10.1002/14651858.CD003373. PMID: 12804462; PMCID: PMC7387360.
[2] Urban LA, Chala LF, Paula IB, Bauab SP, Schaefer MB, Oliveira AL, et al. Recomendações para o rastreamento do câncer de mama no Brasil do Colégio Brasileiro de Radiologia, da Sociedade Brasileira de Mastologia e da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Femina. 2023;51(7):390-9.
[3] Chlebowski RT, Aragaki AK, Anderson GL, Pan K, Neuhouser ML, Manson JE, Thomson CA, Mossavar-Rahmani Y, Lane DS, Johnson KC, Wactawski-Wende J, Snetselaar L, Rohan TE, Luo J, Barac A, Prentice RL; Women’s Health Initiative. Dietary Modification and Breast Cancer Mortality: Long-Term Follow-Up of the Women’s Health Initiative Randomized Trial. J Clin Oncol. 2020 May 1;38(13):1419-1428. doi: 10.1200/JCO.19.00435. Epub 2020 Feb 7. PMID: 32031879; PMCID: PMC7193750.
[4] Rockhill B, Willett WC, Hunter DJ, Manson JE, Hankinson SE, Colditz GA. A prospective study of recreational physical activity and breast cancer risk. Arch Intern Med. 1999 Oct 25;159(19):2290-6. doi: 10.1001/archinte.159.19.2290. PMID: 10547168. [5] Diretrizes da OMS para atividade física e comportamento sedentário: num piscar de olhos [WHO guidelines on physical activity and sedentary behavior: at a glance] ISBN 978-65-00-15021-6 (versão digital).
[5] Diretrizes da OMS para atividade física e comportamento sedentário: num piscar de olhos [WHO guidelines on physical activity and sedentary behavior: at a glance] ISBN 978-65-00-15021-6 (versão digital).